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Como comunicar ciência

Redação Biofocushub

A necessidade de se entender a pandemia da covid-19 e acompanhar o desenvolvimento das vacinas, deu grande visibilidade aos pesquisadores e informações científicas.  

Ainda assim, as fake news correram soltas. Afinal, vivemos em uma era em que as observações pessoais, para muita gente, têm tanto peso quanto as evidências científicas e fatos.

E como a comunicação da ciência lida com isso? Será que lutar contra essa tendência nos ajuda? Claro que não . Mesmo que pareça difícil, não é possível comunicar sem estabelecer uma conexão com o público. 

A primeira dificuldade quando falamos de ciência é que normalmente, trabalhamos com dados complexos e organizados para serem compartilhados com os pesquisadores. 

O padrão de divulgação da ciência não ajuda

Olhando o ciclo padrão de divulgação das informações científicas, podemos prever a falta de eficiência da comunicação com o público. De um modo geral, quando o cientista encontra bons dados na sua pesquisa, escreve um artigo ou resume os achados num documento de divulgação científica. Se alguém da área de comunicação se interessa, produz um release, encaminha para a mídia e finalmente, a informação chega ao público externo.  

Uma longa jornada que isola os cientistas da sociedade. Como queremos que eles comuniquem bem?

Como comunicar ciência com sucesso? 

O especialista em comunicação científica Craig Cormick faz análises muito pertinentes e aponta caminhos de como melhorar a comunicação da ciência em seu livro The Science of Communicating Science: The Ultimate Guide, 2019.   

Segundo Cormick, uma das falhas mais comuns na comunicação científica é falar com fãs da ciência e pensar que alcançou a comunidade em geral. Para ele e outros estudiosos sobre o comportamento humano em relação à ciência, estamos organizados em seis grupos: 

1. Fãs – que amam tudo relacionado à ciência.

2. Simpatizantes – aqueles que têm algum interesse em ciência.

3. Pouco entendidos – que se interessam por ciência, mas têm dificuldade para entender.

4. Desinteressados – aqueles que não dedicam nenhum tempo para prestar atenção na ciência.

5. Céticos – que não confiam na ciência e muitas vezes têm crenças anticientíficas.

6. “Sabe tudo” – aqueles que sentem que não têm nada de novo a aprender com a ciência, mas muitas vezes têm crenças anticientíficas extremas.

Diante disso, dá para perceber que ouvir cientista falar, não é, exatamente, uma paixão humana, não é? E precisamos assumir isso quando formos levar informações científicas para diferentes audiências.  

Cormick analisa a ciência da comunicação científica e discorre sobre como podemos ganhar eficiência na abordagem de temas complexos com os diversos perfis de públicos. Em outras palavras, dá uma chacoalhada nos velhos conceitos de quem ama dados e análises e, resgata a empatia. 

5 dicas para comunicar ciência

Reunimos aqui as principais dicas destacadas por Cormick, inserindo exemplos de nossos trabalhos para representar de forma prática.

 

1. Defina seu objetivo 

Não saia de casa sem saber qual é a importância de você comunicar para a sua audiência. Ter essa clareza vai lhe ajudar desde a preparação até o momento em que estiver com o público, evitando que você desvie do tema.

 

2.Conte uma boa história

A comunicação científica mais eficaz se resume a contar uma boa história. Se você puder transformar sua mensagem em uma história, terá muito mais chances de que ela seja entendida. De acordo com a neurociência, a chance de lembrarmos das informações é sempre maior diante de uma história. Elas também reduzem contra-argumento e são mais convincentes do que os fatos e dados.

Que tal falar sobre a produção de trigo partindo de um alimento que todo munda adora — o pão?



 3.Conheça o público

O ‘público’ não é uma comunidade única. Por mais heterogêneos que sejamos, somos atraídos por alguns grupos. Gostamos de conviver com pessoas parecidas com a gente. E tendemos a destacar as diferenças de pessoas que não se comportam da mesma forma. Conhecer a comunidade que prevalece num determinado público é essencial.  Não pense que você estará sempre falando com pessoas parecidas com você. Ou que se as pessoas forem diferentes, você não conseguirá acessá-las. Conhecendo e sendo empático, você tem boas chances de se conectar, mesmo que tenha apenas dados difíceis para compartilhar.

Por exemplo, promover a produção de hortifruti do Brasil para nutricionistas pode ser mais efetivo, combinando história, curiosidades e receitas.

Fatos e evidências não ajudam tanto quanto os cientistas pensam. Raramente, dados da ciência revertem pensamentos rígidos. Então, não aposte tanto nos dados. No lugar deles, descubra quais são os valores da sua audiência e procure enquadrar suas discussões nesse contexto. Quando alguém não acredita em aquecimento global, mas é pró-industrialização e desenvolvimento, tem boas chances de se envolver em uma conversa sobre investimentos sustentáveis. Pode então ser atraído pelo tema  de sustentabilidade, sem você mencionar mudanças climáticas.

Ilustrando com um trabalho nosso, diante do desafio de falar sobre agricultura com quem ama as temáticas de biodiversidade, iniciamos pela biodiversidade e levamos para a produção agrícola.

4.Simplifique

Quando as informações são complexas, as pessoas tomam decisões com base em seus valores e crenças. As pesquisas comportamentais mostram que a maioria das pessoas contrárias às mudanças climáticas, aos alimentos transgênicos ou às vacinas, raramente, assumem tal postura com base em dados científicos. Em vez disso, apoiam algo que está de acordo com suas visões de mundo. Não esqueça que, de um modo geral, as pessoas tendem a rejeitar qualquer informação ou fato que contrarie suas crenças. 

 

5.Crie pontos de contato

As pessoas confiam em outras cujos valores refletem os seus próprios. A confiança não é concedida e pode ser retirada a qualquer momento. No entanto, tendem a procurar outras pessoas “como elas” para desenvolver sua confiança. Por exemplo, se você está conversando com alguém que é contra a vacinação, precisa estabelecer o ponto comum de que ambos se preocupam muito com o bem-estar. 

Precisávamos falar sobre o papel dos defensivos químicos nas lavouras com um público que adora pets mas não tem nenhuma familiaridade com o campo. Como conectar com essa audiência? Nosso ponto de contato foi a saúde do pet. Falamos de tratamento anti-pulgas e introduzimos o desafio do agricultor na proteção das plantas.

O que você faz quando encontra uma pulga no seu cãozinho?

Não desanime e se coloque no lugar da sua audiência 

Comunicar ciência pode não ser uma tarefa fácil mas, com boa dose de empatia e histórias bem construídas, podemos derrubar as fake news e ajudar muito mais gente a fazer escolhas mais seguras. 

 

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